MATERNIDADE E EQUILÍBRIO EMOCIONAL DURANTE A PANDEMIA

Por Marleide Rocha - Psicóloga

@clinicamarleiderocha

Não é novidade que as mulheres acumulam múltiplas atribuições: estudo, carreira, tarefas da casa, cuidado com os filhos... E com a pandemia passaram a enfrentar todos esses desafios ao mesmo tempo dentro de casa. Para muitas mulheres a principal rede de apoio do cuidado dos filhos é a escola, e elas se viram obrigadas a assumirem também o papel de educadoras com a necessidade do ensino à distância.

Clean beauty tempos difíceis - maternidade e equilíbrio emocional durante a pandemia

Como manter a saúde emocional diante desse cenário tão incerto, conturbado e com demandas tão diversas?

O mais importante é se livrar da culpa, mas como fazer isso? Internalizando que você está fazendo o melhor que pode com os recursos que dispõe nesse momento. Esqueça o perfeccionismo, afinal ele é pouco eficiente para muitas realizações da vida e consome muita saúde mental.

No mundo perfeito e ideal, a mãe tem uma jornada de trabalho flexível, pode parar as tarefas para dar atenção aos filhos e no final do dia tomar uma taça de vinho com o marido ou ler um livro...talvez 1% das mães do planeta viveram algo assim nesses quase dois anos de pandemia. Porém, a verdade é que a maioria tem se desdobrado para chegar inteira, física e emocionalmente, ao final do dia.

Compreender o contexto e colocar os acontecimentos atuais em perspectiva é outro aspecto importante. Afinal não estamos vivendo o mundo do home office estruturado, pensado para o bem das pessoas, das empresas e do ecossistema. Desde 2020 estamos no modo sobrevivência!

Os empregos se instalaram nos lares, ocupando salas, sacadas, salinhas de TV e quartos e empurraram os moradores da casa para um canto da parede. Logo, não se coloque na posição de salvadora cuja missão é colocar ordem no caos. Estabeleça limites para o trabalho, trabalhar de casa não significa disponibilidade total 24 horas por dia, 7 dias da semana. Infelizmente nem todo gestor compreende isso, então cabe a você sinalizar os limites.

Desenvolva a flexibilidade de pensamento para aceitar a transitoriedade do momento, mesmo que a essa altura não pareça tão transitório assim. Mas ter um pensamento flexível tornará mais fácil a sua adaptação ao momento. Quando estamos dentro de uma situação muito estressante, a tendência natural é pensar que nunca sairemos desse lugar, que sofreremos para sempre. Busque na memória períodos difíceis da vida e como foi a sua superação, não existe problema que dure para sempre. E tudo bem não estar 100% bem, produtiva, criativa, disposta o tempo todo.

Faça planos para o futuro, alimentar sonhos e projetos, também é uma forma de quebrar o ciclo de pensamentos nocivos e sabotadores comuns como: “não sou boa o suficiente”, “estou falhando como mãe”, “não estou dando o meu melhor no trabalho”.

Aceite a sua vulnerabilidade, ela não te torna uma profissional, mãe, esposa, mulher falha ou ser humano inferior. Pelo contrário, vulnerabilidade humaniza e mostra que você também merece ser cuidada!

Clean beauty paternidade - maternidade e equilíbrio emocional durante a pandemia

Em relação as tarefas domésticas ou cuidado com os filhos, cobre maior envolvimento do seu marido (se o tiver), principalmente no caso de crianças pequenas, ele é capaz de fazer tudo o que você faz: trocar fraldas, dar banho, comida. Pode ser um bom momento para melhorar o vínculo pais e filhos.

Deixe de seguir perfis de influencer, profissionais ou mães que vendem a ideia de “Mundo Doriana”, isso só vai desencadear frustração e comparações desnecessárias. Ninguém é “mãe perfeita” o tempo todo. Aliás, o seu filho não precisa de uma mãe perfeita, precisa de uma mãe humana!

Tem um conceito desenvolvido pelo pediatra, psiquiatra e psicanalista inglês D.W. Winnicott muito útil para esse tempo de maternidade na pandemia, o da mãe suficientemente boa. De acordo com esse conceito, os filhos não precisam de uma supermãe, infalível e perfeita, eles precisam de uma que seja suficientemente boa. E o que isso significa?

Clean beauty mãe boa - maternidade e equilíbrio emocional durante a pandemia

Embora a perfeição seja uma cobrança da sociedade sobre a mulher desde que o mundo é mundo, a mãe suficientemente boa contribui para o desenvolvimento psíquico adequado da criança porque ela é aquela que, que prove as necessidades do filho, também falha e é nas suas tentativas de reparar essas falhas que ela acaba constituindo a “comunicação do amor, assentada pelo fato de haver ali um ser humano que se preocupa.”[1]

Então da próxima vez que a voz interior da cobrança te colocar contra parede, responda “estou fazendo o suficiente e isso basta.”

[1] Winnicott, D.W. Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 87.

 


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